Contos Espiritas.

  O que devo fazer agora?
 Fernando bonito rapaz teve uma vida leviana, teve as mais belas garotas que desejou ter, usava e abusava do seu poder de sedução, uma vida extrema desregrada moralmente, não orava, não seguia uma religião fosse qual fosse que o encaminhasse até Deus.

Falava na penumbra com ele mesmo:
— Nada enxergo, será que fiquei cego de um momento ao outro? Não, não é isso, é como se fosse uma cegueira noturna quando apago a luz do meu quarto, mas... Espera deixa lembrar onde eu estava quando nada mais eu enxerguei. Que droga, nada de visão mais eu sinto e sei que a tenho, o que aconteceu comigo?

Desesperado começou chamar por alguém que o ajudasse, chamou pela mãe, pai, irmãs e nada de resposta de alguém de sua família e falando consigo mesmo resmungando e procurando se acalmar. Fernando apalpando na escuridão, sentindo com pés se não havia obstáculos à frente caminhou cuidadosamente, parado no mesmo lugar não adiantaria pensou caminhando sem nada ver passos pequenos e lentos com medo de cair, se machucar.
Falando a ele mesmo:

— Que castigo é este? Em Deus eu acredito, mas como se reza mesmo? Droooga, eu não lembro mais desde os velhos tempos da forçada catequese para fazer a primeira comunhão da eucaristia. Não matei, não roubei, não era má pessoa por que este castigo Deus? Por que não dá uma resposta neste momento de agonia? Por que não consigo lembrar-me do que aconteceu?

Sem saber Fernando conversava e Deus o ouvia e como todo Pai, decidiu dar fim aos sofrimentos de Fernando quando este rogou a Deus ajuda e Ele enviou seus mensageiros de luz para ajudá-lo...
Fernando não tinha noção de tempo nem espaço, onde estava apenas sentia ardência nos pulsos, nada mais que isso e caminhando sua jornada entre tombos, passou por lamaçal, se atolou sofrendo para se desgrudar da lama grudenta, rolou pedreiras e sempre na escuridão.
 
Às vezes ouvia gemidos de dores, mas não sabia quem ou como ajudar, pois estava cego achava ele.

Anos se passaram sem que Fernando imaginasse estar perambulando no umbral, no chamado inferno a muitas religiões. Do nada avistou ao longe uma pequenina claridade, foi em direção àquela claridade onde sentiu que o tempo passara. Ele preocupado e revoltado com Deus em dar-lhe o castigo da escuridão que para ele era cegueira não se lembrava de rogar ajuda ao Pai Eterno que quando se lembrou de conversar com Deus foi-lhe enviado um Espírito de Luz, que o socorreu...

— Seja bem vindo Fernando ao fim de seu sofrimento e aprendizado que se arrepender e rogar ajuda a Deus consegue se libertar de todo e qualquer sofrimento!

Fernando tapava sua visão pela claridade intensa do amigo espiritual, mas ele não compreendia como àquele homem expandia tanta luz de seu próprio corpo e rindo feliz por saber que encontrou alguém e não importava quem, riu dizendo ao Espírito de luz:

— O amigo pode dar luz baixa? Não posso te olhar direito!
O Espírito amigo riu discreto ofuscando um bom tanto de sua luz, deixando com que Fernando se habituasse a claridade novamente depois de anos sem claridade:


— Claro amigo desculpe-me, após anos que você desencarnou sem luz atrapalha mesmo, siga-me e temos muito que conversar e você aprender se desejar.


— Que história é esta de eu ter o que?


— Desencarnado amigo, assim chamamos aos que morre o corpo, que falecem os órgãos vitais enquanto vivo na Terra!


Sem compreensão da vida após a morte e nem acreditava nisso Fernando gargalhou brincando:


— Amigo, fala logo que você é um Extra Terrestre e me seqüestraram que acredito, mas dizer que eu morri? De que forma que não lembro, como posso estar morto se estou aqui vivo?


— Vivo em outra dimensão, na dimensão espiritual e faz 10 anos que você desencarnou Fernando, vem comigo, vou te mostrar algo e talvez comece compreender o que ocorreu com você, dê-me sua mão, por favor!


— Desculpa, mas não sou gay e pra que deseja andar comigo de mãos dadas?


Discreto o amigo espiritual riu:


— Está bem Fernando, se lhe incomoda dar-me sua mão você mesmo segure-se em meu ombro, não iremos caminhando e sim volitando, achará que estaremos voando!


— Nós vamos voar por isto que queria me dar sua mão?
— Sim, por hora que seja “voar”, segure-se, irei te mostrar algo e se lembrar de coisas que te fizeram sofrer por anos, mas como Deus é maravilhoso Ele te perdoou e não existe castigo eterno por que Deus é Pai, e todo pai ama seus filhos. Os castiga levemente para que aprendam e consertem seus erros. Nosso Pai Celestial te ouviu e me enviou a ajudar você, por isto estou aqui!


— Caaara, isso tudo é muito doido, nunca me droguei, será que bebi demais e deliro com isso tudo?


— Segure-se Fernando e vamos, sem mais perguntas de momento e verá muitas coisas e foi-lhe dada chance de ver seus familiares, despedir-se deles por um tempo e seguir comigo novamente para onde você aprenderá muitas coisas se desejar o bom caminho e não a escuridão das trevas!


— Claro amigo, aceito tudo, mas não enxergar de volta, isso eu não quero nunca mais passar o que passei!


Sem mais perguntas Fernando segurou-se no ombro do amigo espiritual e seguiram volitando, ao sentir-se no ar, Fernando com medo de cair, esqueceu de seus preconceitos bobos se agarrando ao pescoço do amigo espiritual que apenas riu gentil. Chegaram à casa de Fernando, onde antes morava. Desalentado, ele andou por toda casa matando saudades de casa, dos pais e irmãs, os abraçou beijando seus rostos falando com cada um deles que nada responderam por não terem o dom da visão espiritual, audição para ouvir um Espírito...


Ele era único rapaz da família, olhou ao espírito que o aguardava tranquilamente parado na entrada da porta da sala em pé, sorriu a Fernando que com olhos rasos de lágrimas pensou e teve imediata resposta do amigo de luz:


— Sinto muito Fernando, eles não o ouvem nem o enxergam!


— Faz parte do meu castigo pelo que eu não sei o que fiz de errado por que não lembro nada?


— Seu aprendizado e não castigo exatamente, já findou, eles não te vêem por que você é como eu, um ser espiritual, compreende agora por que não te escutam nem te enxergam?


Sinal de mais ou menos com a mão da não compreensão, o amigo espiritual pediu que se despedisse dos amados familiares, Fernando o fez obedecendo e o amigo espiritual o conduziu até seu quarto.


Frente à porta do quarto o amigo mandou-o entrar:


— Entre Fernando e seja forte no que verá!


Abriu a porta e avistou tudo, segundo a segundo relembrando e revivendo dores e ouvindo lamúrias de seus pais e irmãs sobre seu cadáver estirado na cama envolto numa possa de seu sangue, uma gilete no chão dentro da possa de sangue e seus pulsos abertos e sua mãe aos prantos:


— Por que fez isso meu filho amado?


Choro e ranger de dentes de Fernando, ele lembrou naquele momento que Deus tinha de castigar-lhe mesmo, ele tirou sua própria vida, mas Deus não castiga eternamente a ninguém e deu-lhe uma chance ao rogar por socorro...


Ternamente o amigo espiritual achou bastar àquelas lembranças o fazendo adormecer e o carregou rumo ao além em algum lugar no espaço em uma colônia espiritual.


O tratariam e ensinariam como viver na nova vida, por que nossa vida não termina na terra depois da morte, ela continua de forma diferente em espírito!

Fernando aprendeu a vida espiritual e passou ajudar a muitos na missão de convencer espiritualmente a quem desejava dar fim na própria vida, deveria conseguir influenciar as pessoas a não se matarem, não tirar de si o que somente Deus pode fazer!

Dali em frente vivera uma vida de amor ao próximo sem nenhum preconceito, sem ódio, raiva ou rancor. Aprendeu AMAR e RESPEITAR seus semelhantes, o que deveria ter aprendido por si só, ainda na vida Terrena antes de desencarnar...
*
Escritora Len.




Sou como a borboleta saindo do seu casulo!

Tem dias que vôo e sobrevôo as mais cheirosas flores por que estou alegre e feliz, mas... Eu tenho problemas a resolver, aposto, os meus são maiores do que dos outros...

Olho com carinho aos colibris que revoam em todas as direções num suave e vibrante bater de asas, mas eu...
Sinto-me preso e as avessas na busca da solução aos meus problemas, que vibram mais potentes do que as asas do colibri e pelos meus problemas que acho ser mais pesados do que das outras pessoas, não consigo caminhar passos suaves e sim os mais pesados, que cruz esta a minha...

Olhando em crianças mendigando pelas praças e ter moedas para comprar um pãozinho, percebo que não tenho problema algum perto deles, mais que tenho problemas tenho e agora já nem sei mais se mais ou menos pesado meu fardo do que dos outros...

Caminhando numa ponte metálica tentando me acalmar pelos meus problemas, olho uma mulher estática olhando nas águas profundas do rio e pensei; ela também tem seus problemas, pensando em tirar a própria vida...

Sou eu ou ela o mais problemático?

Ao menos eu não desejo me matar... Tô nem aí, que se mate se quer, o problema é dela, tenho os meus a resolver...

“Onde acha que chegará pensando dessa forma?”

Olhei aos lados e ninguém havia me dito àquelas palavras, continuei andando pensativo...

“Covardes são os que pensam sofrer mais do que outros e nem se quer tenta ajudar”

Lembrei daquela mulher e voltei até ela:

— Senhora, vai cair da ponte!

— É o que eu desejo, afinal, duvido que alguém tenha maiores problemas do que eu tenho!

— Outro problema vai causar senhora se jogando da ponte, sai daí vamos conversar, problemas todos temos!

— Você com problemas moço? Kkkkkkk, eu duvido que sejam piores que os meus já foram!

— Sai do beiral da ponte e um conta os problemas do outro e vemos quem mais sofre!

— Falo daqui mesmo moço, antes você conta os teus!

— Sou solteiro e feio por que não consigo arrumar uma namorada, sou rico e nem minha riqueza atrai mulheres, sou um profissional de renome, mas tem outros mais bem vistos que eu e de sucesso, mais o maior problema meu, é que não posso este mês pagar as prestações do meu apartamento e do meu carro porque tive de ajudar minha mãe por doenças...

Ela gargalhou:

— Você não tem problema algum moço, você é louco achar seus problemas maiores que os meus. Sou casada e aleijada como vê, além de ser cega e meu marido me abandonou por outra moça novinha, não sei ler nem escrever e dependia dele por que não tenho a mais ninguém na vida, a justiça tomou meus filhos por não poder cuidar deles como se deve, não tenho nem nunca tive casa, carro e perambulo sem lar pelas ruas, sim moço, eu cansei de viver... Quem dera poder ter a sua cruz e carregá-la e entregar-te a minha cruz moço. Pegaria de bom agrado eu teria onde viver, bom estudo e trabalho sem invejar ser mais que os outros na profissão, se eu tivesse seu dinheiro pagaria as dívidas, cirurgias e ficaria linda arrumando um novo amor e você imagina que seus problemas são maiores do que os meus agora, neste exato momento moço?

— Não senhora, eu vejo que sou feliz e nem sabia, graças à senhora me fez enxergar a verdade, não tenho problema sem boa solução, vem para cá e vamos comer algo eu pago senhora, sou-lhe grato eternamente e vou te ajudar na vida, eu prometo!

— Fico muito feliz que consegui fazer você ver o quanto de pessoas sofrem mais que você, ajude sim as pessoas, eu não preciso de ajuda me amigo.

— Como não? Tudo o que me contou e...

— Acontece que agora eu não sofro mais nada disso e não vou me jogar no rio para morrer. Eu já o fiz há anos atrás e agora minha missão é convencer outros com probleminhas a não fazer-se de vítima quando não o é, assim como você se achava o tal e agora posso ir, você não necessita mais da minha ajuda, viva sua vida de conforto e ajude o próximo, adeus amigo!

Achando que a mulher se jogaria na água:

— Não faz isso?!

— Calma, olha para mim, estou no ar se chama volitar e como já lhe ajudei enxergar que vida maravilhosa você tem, fiz minha parte, um a um ajudando cumpro minha missão e sou feliz agora, viva e seja feliz! — Sumiu —

Como fumaça sumiu no ar deixando o rapaz estático e nunca mais se queixou da vida ou imaginou ter problemas, deveria ser uma boa alma que o ajudou enxergar a vida de outra forma, a melhor possível de se viver e guarda somente a ele tal cena da senhora na ponte, mas aprendeu a lição que ela lhe ensinou...

Ser feliz, viver como é e com o que se tem, sem invejar ou querer ser mais que os outros, hoje é ele mesmo e feliz!

*
 Mateus e Julio